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Eva Cedeño e David Zepeda em arte promocional (Foto: TelevisaUnivision) |
Desde seu anúncio, "A.Mar" gerou atenção não apenas pelo retorno de Ignacio Sada Madero ao horário nobre — sua última investida nesse território havia sido "La Intrusa", em 2001 — mas também por se tratar de uma adaptação de uma bem-sucedida novela chilena centrada em personagens femininas fortes e em uma ambientação marítima. A expectativa era clara: um melodrama clássico com fôlego contemporâneo, voltado a temas de empoderamento, maternidade, disputa familiar e redenção amorosa. No entanto, ao longo de sua exibição, o que se viu foi uma produção hesitante, esteticamente irregular e que raramente entregou o impacto dramático que sugeria.
A trama gira em torno de Estrella Contreras, interpretada por Eva Cedeño, que retorna à vila onde cresceu após a morte do pai, com o propósito de assumir os negócios da pesca artesanal e cuidar da filha. O conflito central — sua relação com Fabián Bravo (David Zepeda), um pescador viúvo — é temperado por obstáculos clássicos: a rival ciumenta, o ex vingativo, o patriarcado local e os segredos familiares. No papel, a estrutura tem tudo para funcionar, mas a execução raramente ultrapassa a medianidade.
Há um problema de ritmo evidente. A narrativa se constrói com lentidão, não por profundidade ou densidade emocional, mas por uma indecisão constante sobre o que priorizar: o romance, a luta feminina, ou os dramas individuais das personagens coadjuvantes. O resultado é uma série de episódios que muitas vezes parecem longos demais e, paradoxalmente, apressados em suas reviravoltas.
Ignacio Sada parece querer equilibrar o melodrama clássico com tons realistas, mas não entrega nem um nem outro com convicção. A novela oscila entre cenas excessivamente sentimentais — com diálogos pesados e trilha sonora que força a emoção — e outras que beiram o artificial, sobretudo nos núcleos paralelos. A estética da vila pesqueira, embora charmosa em alguns momentos, carece de verossimilhança: os cenários parecem pouco vividos, os figurinos caricaturais, e há uma notável inconsistência na fotografia.
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Juan Carlos Barreto e Ana Martín em arte promocional (Foto: TelevisaUnivision) |
Eva Cedeño, mesmo limitada por um texto que muitas vezes a subutiliza, se mantém firme como protagonista. Seu carisma segura boa parte da novela, embora sua Estrella careça de complexidade dramática: falta dor real, conflitos internos palpáveis. David Zepeda, por sua vez, traz ao Fabián um molde já conhecido demais do galã nobre, sem grandes variações — o que torna o casal central previsível e pouco magnético. O núcleo de vilania também sofre com esse problema. Laura Carmine e Víctor González têm presença, mas seus personagens são excessivamente unidimensionais. Quando há nuances, são rapidamente abafadas por cenas expositivas e motivações rasas.
Outro ponto que chama atenção negativamente é o uso excessivo de subtramas mal integradas. Ao tentar dar voz a muitos personagens secundários, a novela dilui sua própria força. As tramas paralelas se alongam mais do que deveriam e não contribuem para o crescimento do arco principal.
Há, no entanto, elementos positivos. A direção de arte acerta ao valorizar elementos do cotidiano pesqueiro, trazendo um toque cultural interessante e valorizando o interior do México. A trilha sonora, embora repetitiva, carrega identidade. E, nos momentos em que o texto permite, há boas cenas de confronto emocional — sobretudo nas interações familiares. Mas são momentos pontuais em uma narrativa que raramente se arrisca de verdade.
À medida que "A.Mar" se aproxima do fim, o saldo é de uma novela que prometeu mais do que entregou. Ainda que tenha conquistado índices razoáveis de audiência, não deixou marcas profundas nem causou comoção no público como outras produções da faixa. Seu maior defeito talvez seja a falta de ousadia: em um momento em que o público valoriza narrativas mais honestas, cruas ou, ao menos, criativamente estruturadas, "A.Mar" optou pelo conforto de fórmulas conhecidas, mas sem o brilho que faz delas um clássico.
Não foi um desastre — longe disso. Mas para uma novela que se chama "A.Mar", faltou mar revolto, faltou correnteza, faltou sal. Terminou, como o próprio título sugere, mais como reticência do que como ponto final.
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